Quando fazemos a radiografia de um paciente no consultório ou o encaminhamos para uma clínica de Radiologia Odontológica para a realização de exames de imagem, nossa intenção é procurar alterações, mesmo na ausência de sintomas. Para reconhecer essas anormalidades, caso elas ocorram, é essencial que o cirurgião dentista domine a aparência radiográfica da normalidade das estruturas maxilo-mandibulares.

A radiografia interproximal

A técnica interproximal ou bite wing inclui, em um mesmo filme, as coroas dos dentes superiores, as coroas dos dentes inferiores e a crista óssea alveolar de uma determinada região, geralmente pré-molares ou molares. A radiografia interproximal é o exame de escolha para a detecção da presença de lesões proximais por cárie em estágio inicial de evolução e para a avaliação da adaptação proximal de restaurações. Também, a radiografia interproximal é uma ótima ferramenta para a avaliação da condição periodontal, já que fornece uma boa perspectiva da crista óssea alveolar. Quanto à técnica, o feixe de Raios-X deve estar paralelo ao plano oclusal e alinhado entre os dentes, de forma que não ocorra sobreposição dos pontos de contato dentários. Um filme adaptado com uma “asa de mordida” ou aleta confeccionada com fita crepe, por exemplo, pode ser usado em vez do posicionador, embora a preferência, por uma questão de padronização, seja sempre usar o posicionador radiográfico indicado para a técnica.

 

Campo de visão

O limite anterior do campo de visão da radiografia interproximal de pré-molares é a porção distal do canino inferior, englobando a totalidade das coroas dos pré-molares superiores e inferiores.

O limite anterior do campo de visão da radiografia interproximal de molares é a porção distal do segundo pré-molar inferior, englobando a totalidade das coroas dos molares superiores e inferiores. O limite posterior, que nesse caso é mais relevante que o anterior, é a superfície distal do molar irrompido mais posterior.

Considerações anatômicas

As estruturas anatômicas que podem ser observadas na radiografia interproximal são: polpa, dentina, esmalte, crista óssea alveolar, osso medular, lâmina dura e espaço do ligamento periodontal. Eventualmente, no caso da extensão alveolar do seio maxilar, é possível ver parte do seu assoalho.

DENTES

São compostos principalmente de dentina, com revestimento de esmalte na parte coronária e uma delgada camada de cemento sobre a superfície radicular. O esmalte é a estrutura dental que aparece mais radiopaca, por ser 90% mineralizada. Em seguida, um pouco menos radiopaca, observamos a dentina (75% mineralizada). O cemento apresenta radiopacidade similar ao da dentina, e por isso não é radiograficamente distinguível dela. A polpa é radiolúcida, por ser composta de tecido mole. A exceção se dá no caso da ocorrência de calcificações intrapulpares.

Um fenômeno importante que deve ser mencionado é o efeito burnout ou sombra cervical, que resulta da menor absorção dos Raios X naquela região e do contraste entre o esmalte radiopaco e o osso alveolar adjacente. Essas sombras não devem ser confundidas com lesões por cárie, até por serem observadas em praticamente todos os dentes.

ESTRUTURAS DE SUPORTE

A lâmina dura é uma fina camada radiopaca de osso denso que limita o alvéolo dentário. Ela não é mais mineralizada que o osso medular adjacente, apenas mais densa. A lâmina dura nem sempre é identificada radiograficamente de forma contínua, por causa da sobreposição do trabeculado ósseo e de pequenos canais nutrientes que passam pelos espaços medulares para o ligamento periodontal. Além disso, ela é menos densa em volta dos dentes menos sujeitos à carga oclusal.

As cristas alveolares são bordas corticais de osso alveolar que ficam entre os dentes, e seu aspecto radiográfico costuma ser de uma linha radiopaca, embora possa ter a mesma aparência do osso adjacente. A crista alveolar pode retroceder apicalmente de forma fisiológica com a idade ou pela presença de doença periodontal.

As fibras colágenas do ligamento periodontal não são radiograficamente visualizáveis. O que se vê é um espaço radiolúcido entre a raiz do dente e a lâmina dura, que recebe o nome de espaço do ligamento periodontal e circunda toda a raiz. Sua ausência indica anquilose.

O osso medular, trabecular ou esponjoso é composto por finas trabéculas radiopacas que circundam diversas e pequenas bolsas medulares radiolúcidas. Como esse padrão varia muito de paciente para paciente, caso haja dúvida quanto à presença de alguma alteração, é preciso comparar o trabeculado suspeito com outras áreas das maxilas ou mandíbula, de forma a esclarecer se há realmente uma anormalidade ou se aquele padrão é uma característica individual. Considerando que a radiografia interproximal tem um campo de visão muito restrito, pode ser necessário optar por outra técnica, como a radiografia periapical ou panorâmica.

Restaurações, coroas e dispositivos ortodônticos

Próteses fixas e materiais restauradores de aparência radiográfica variada são visualizáveis em uma radiografia interproximal, como amálgama, resina composta e materiais forradores cavitários diversos. Também attachments para alinhadores ortodônticos e brackets de aparelho fixo, com radiopacidades variáveis. A radiografia interproximal é útil na avaliação da adaptação desses itens, principalmente das restaurações proximais e da região cervical de coroas protéticas.

 

Conhecimento anatômico é essencial!

Ressalto mais uma vez: para reconhecer o que é anormal numa imagem radiográfica é imprescindível conhecer o aspecto anatômico normal das estruturas. Portanto, meu conselho é: não procurem por problemas, dominem a normalidade e as alterações aparecerão “sozinhas”. Essa é a minha dica como especialista. Um abraço e até a próxima!

 

>>>Leia também: Desafios na interpretação da Radiografia Panorâmica

 

Ana Paula Pasqualin Tokunaga

Graduada em Odontologia pela UFPR

Especialista em Marketing pela PUC-PR

Especialista em Radiologia Odontológica e Imaginologia pela ABO-PR

Atua desde 2013 como Radiologista, com cursos de extensão em tomografia cone beam do complexo ostiomeatal e das ATMs

Criadora do perfil @raiosxis no Instagram, o maior perfil do Brasil sobre Radiologia Odontológica.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

White & Pharoah. Radiologia Oral. Princípios e Interpretação. ELSEVIER. 7ª ed.
Watanabe & Arita. Imaginologia e Radiologia Odontológica. ELSEVIER. 2ª ed.
Whaites, Eric. Princípios de Radiologia Odontológica. ELSEVIER. 4ª ed.
Antoniazzi MCC et al.. Importância do conhecimento da anatomia radiográfica para a interpretação de patologias ósseas. RGO, Porto Alegre, v. 56, n.2, p. 195-199, abr/jun 2008.
Bernaerts A, Vanhoenacker FM, Geenen L, Quisquater G, Parizel PM. Conventional dental radiology: What the general radiologista needs to know. JBR-BTR 2006; 89(1) 23-32.