A radiografia panorâmica (PAN) é, na maioria dos centros radiológicos, o exame mais solicitado, provavelmente por reproduzir em apenas uma imagem ambos os arcos dentários com todas suas estruturas adjacentes, estendendo-se desde a órbita até o hióide e visualizando até as cabeças da mandíbula bilateralmente. É considerado um exame de fácil entendimento, até para o paciente, mas será que é tão fácil interpretá-la assim? É o que abordaremos nesse artigo, radiologistentos.

 

Vamos começar do início: Quando a PAN deve ser solicitada?

A PAN é a “campeã de vendas” nos centros radiológicos pelas suas inúmeras vantagens: praticidade, simplicidade da operação, conforto ao paciente, ampla cobertura da área examinada com baixa dose de radiação, baixo custo e maior facilidade no controle de infecção. Suas principais indicações são para diagnósticos que requerem uma ampla visualização dos maxilares, como fraturas ósseas, localização de dentes inclusos, patologias ósseas e dentárias extensas, acompanhamento do desenvolvimento dentário ou também nos casos dos pacientes com dificuldades na execução dos exames intrabucais (trismo, reflexo de naúsea, limitação de abertura bucal, limitações anatômicas, etc). Conseguimos visualizar na PAN todos os dentes em uma única aquisição e, para termos a mesma cobertura através das radiografias intrabucais, teríamos que performar o levantamento periapical com 14 radiografias. Então será que eu não deveria substituir o levantamento pela radiografia panorâmica?

Realmente quando realizamos o levantamento periapical, a dose de radiação é maior ao paciente, entretanto, a PAN não nos proporciona o detalhamento que as radiografias intrabucais nos oferecem. A PAN é comumente utilizada como imagem de avaliação inicial e pode sim nos auxiliar na indicação de outras radiografias, entretanto, ela não deve substituir os exames intrabucais principalmente em diagnósticos mais detalhados como cáries interproximais, lesões apicais, etc… nesses casos, recomenda-se a indicação das radiografias interproximais e periapicais, respectivamente. Ou seja, a PAN não é tão útil quanto as radiografias intrabucais para detectar pequenas lesões cariosas, periodontais ou periapicais.

= Desafios na interpretação da PAN

Apesar de visualmente ser muito didática, a PAN esconde muitas informações. Na maioria dos aparelhos, temos a fonte de radiação e um receptor de imagem (filme ou sensor) que giram simultaneamente ao redor da cabeça do paciente, criando o que conhecemos como campo focal. Objetos dentro desse campo ficam nítidos e os fora, ficam borrados e podem possuir distorção geométrica também, os tornando inelegíveis para mensurações anatômicas. Então na verdade quando você visualiza na PAN a cabeça da mandíbula do lado direito, a do lado esquerdo também está lá, mas tão borrada que acaba nem sendo vista. Em alguns casos com objetos mais densos como brincos, piercings, coluna vertebral e ramo mandibular temos o aparecimento das imagens fantasmas, que aparecem maiores, superiores e do lado contrário da sua posição original, o que pode mimetizar ou até esconder alguma patologia, limitando nossa interpretação radiográfica.

Já que esclarecemos sobre suas indicações, vantagens e desvantagens. Como posso maximizar a interpretação da PAN?

A primeira dica aplicável para todas as interpretações radiográficas é o ambiente. Trabalhe em um ambiente silencioso, com iluminação reduzida, mascarando a luz ao redor da imagem.

Segundo: Equipamento

Não faça a interpretação no “janeloscópio” (colocar a radiografia contra a janela) e sim em um negatóscopio de qualidade, ou até melhor, avalie as imagens digitalmente em um monitor de boa qualidade. No computador geralmente temos ferramentas que podem nos auxiliar como ajuste de contraste brilho, zoom, etc…

Terceira (e provavelmente a dica mais valiosa): Conhecimento!

Você só conseguirá interpretar o que conhece. É importante que saibamos como as estruturas anatômicas se apresentam na sua normalidade para reconhecer as anormalidades, então é muito importante estudar sobre anatomia radiográfica. A partir disso teremos capacidade de reconhecer padrões anormais na imagem, como as patologias se comportam e como se manifestam radiograficamente.

Quarta dica: Método

É muito importante definir estratégias sistemáticas de busca pois nos auxiliam na avaliação integral detalhada de todas estruturas. Vou citar dois exemplos: Fulano não tem método, olha a coroa do 18, depois raiz do 37, depois o seio direito, depois vai pro outro extremo e assim por diante. Já o radiologistentociclano tem um método definido onde avalia sempre do 1º, pro 2º, pro 3º e finalmente o 4º quadrante. Qual dos dois provavelmente vai deixar escapar alguma coisa? Há vários métodos e você pode escolher o que melhor funciona para você, o importante é seguir um. O emprego de uma estratégia sistemática de busca melhora nossa capacidade de detectar anormalidades.

Lembrem-se que as imagens serão uma representação bidimensional de estruturas tridimensionais. Podemos então ter sobreposições, imagens fantasmas, magnificações, artefatos. Com isso em mente, além de muito estudo e conhecimento, iremos adquirir experiência suficiente para diferenciá-las das alterações e cada vez mais teremos um diagnóstico mais assertivo.

 

 

Referência:

Radiologia OralPrincípios e Interpretação. White SC, Pharoah MJ.

Roteiro Laudo 2D Ebook Radiologistas Online. Imada-Piveta, TSNI.

Profa. Msc. Phd. Thaís Sumie Nozu Imada-Pivetta

@radiologistasonline